Todas as tardes daquele verão eles se encontravam. E não se encontraram antes pois só se conheceram no verão. Era algo lindo de se ver. Ela era linda e completava a beleza dele. Passaram a frequentar a casa dela, pois os pais naquele tempo se ausentavam todos os dias retornando somente à noite quando cada um dos filhos já deveria prestar explicações aos pais de onde estava ou deixava de estar. Então era a tarde mesmo que lhes restava. Eles riam, brincavam, se conheciam, se elogiavam insasiavelmente e eram felizes demais com sorrisos estampados sempre um para o outro. Na casa dela, ele se tornava curioso por tentar descobrir melhor do que eles gostava e assim ter uma breve noção do que ele poderia se referir, num futuro próximo, queria ele, aos pais dela para causar boa impressão e agradar facilmente. Observava tudo. Mas sempre uma porta abaixo da escada lhe chamava mais a atenção que qualquer outra coisa cara, bonita, limpa e bem cuidada pela casa. Ao ver-se em um breve momento de folga à presença dela, ele foi conferir. Via-se em total liberdade para andar pela casa como se fosse dele. Já estava acostumado, e por isso dirigiu-se à porta sob a escada.Maçaneta em mãos quando ouviu um grito. Virou-se e ela estava ali. Parada perplexa, pedindo-lhe que não faça isso. Que não a deixara. Um abraço longo e forte foi o que se ocorreu e se estendeu entre os dois até o fim daquela tarde. Os dias se passaram e ele seguiu indo à casa todas as tardes e procurando estar sempre perto dela. Mas seria impossível, mesmo ambos não querendo estar separados tal fato não acontecer.Ela saiu, deixou ele só. Confiava-lhe a segurança da casa caso algo acontecesse. Erro dela. Pois ele não confiou primeiramente em si próprio ao cumprir a promessa de ficar longe da porta. Bem que o sabia. E rendeu-se. Abriu. O mesmo sol de todas as tardes, bateu em suas costas entrando diretamente por uma janela que dava de frente à escada e passando por ele para dentro do pequeno armário. Nada viu. A não ser, claro, sua sombra. E ele entrou. Nada. Confuso, procurou sair rápido antes que ela chegasse, e estando praticamente do lado de fora, pensou ter visto algo se mexer. Fitou novamente onde a luz do sol iluminava. Era sua sombra. Ela não se mexia. Ou melhor, se mexia por conta própria. Mas não era ele. De acordo com os movimentos dela na parede, parecia que o estava chamando. E ele foi. Apenas tocar resultou em toda sua presença ser sugada para dentro da sombra. Quisesse ele ter escutado sua amada e não lhe ocorrido aquilo ao olhar para baixo e ver apenas aquele contorno preenchido de preto marcando, o que seria agora, sua presença. Ela voltou. Encontrou o armário aberto, olhou sua sombra e fechou. Ele só teve a chance de fazer uma única última coisa. A noite chegou. E nem notícia dele. Deduziu o pior. E então ela chorou. Chorou por vários dias. Por semanas. Por um longo tempo. Já sabia o que acontecera ao chegar e não encontrá-lo antes do anoitecer e estando a porta aberta. Agora, ele só podia estar perto dela sem vê-la de frente. Ele se tornara a sombra dela. Ele era presente apenas nas tardes de sol. Onde houvesse luz. Onde houvesse como marcar sua sombra. Onde houvesse como andar antes do sol se despedir e seu corpo de sombra se juntar ao imenso lago escuro da noite que não permitia lhe marcar presença.
Por Federico Ezequiel Devito.
0 comentários:
Postar um comentário