segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Agresso - Lise, parte cinco.

- Não grite. - Foi tudo que Ricardo disse.
- Eu vou fazer isso, e você vai ser descoberto aqui. Espero que te expulsem. - E já abriu a boca para soltar um de seus gritos finos, como uma garota que acabou de sair do banheiro e encontrou um menino a encarando, quando braços musculosos entrelaçaram sua cintura e uma mão sufocou seu grito.
- Bem que eu pensei que você era ingrata, mas nunca pensei que fosse chegar a esse ponto. Venho aqui, lhe avisar o que está acontecendo e você me trata assim. Hipócrita. Nojenta. Nem sei o que eu estou fazendo aqui. Pensei que eu estivesse errado, que eu não deveria acreditar no que meu pai sempre me disse. Mas a gente só se fode quando não aceita opinião dos pais. Você gosta de ver os outros sofrerem, você e toda sua família. - Ele a jogou no chão e se virou, cuspindo ao fechar a porta do banheiro.
Ela ficou tão atordoada com esse movimento que não conseguiu fazer nada, apenas lavou as mãos e se olhou no espelho: não sabia porque aquela atitude a machucara tanto. Não havia dor física. Não era simplesmente dor física. ”Imbecil, bruto, idiota.” Foi o que ela pensou. Digitou algo rápido numa mensagem para Tina, e se concentrou em ir para a saída do colégio sem que ninguém a visse. Mas não sentiu vontade de ir pra casa. Nenhuma. Não que seus pais fossem se importar que ela havia fugido do colégio.

Foi para o primeiro lugar que conseguiu pensar: Lago Vector. Era um laguinho que ela ia com os avós quando era pequena. Os avós sim, se importavam com ela. Mas eles estavam mortos. E com um aperto no coração, ela caminhou em direção à praça com o lago. “Você gosta de ver os outros sofrerem. Você e sua família.” Era a única coisa que ela conseguia pensar no momento. Dilacerada. Ela não gostava de seus pais, mas não acreditava que eles poderiam gostar de ver alguém sofrer. Não podiam. Seriam monstros assim. Ela sabia quem era, e não era um monstro. Pelo menos ela pensava que não.
Continua.
Por Natália Arruda.


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